quinta-feira, 14 de abril de 2011

Argentina x Brasil: um grande clássico!

Cristian é um amigo de Campana, cidade próxima de Buenos Aires. Conhecemo-nos em Bariloche e, depois que retornei ao Brasil, convidou-me para visitá-lo em sua casa. Fora a dieta carnívora, os aquecedores a gás e a ausência de chuveiro elétrico (o aquecimento da água é central, também por gás), um traço argentino que achei interessante foi a estética arquitetônica e a relação dos moradores com os espaços públicos. Sim, Buenos Aires é linda e, de fato, lembra muito Paris. Os parques são utilizados, as pessoas pisam na grama (grama de lá vive mais que a daqui!?), fazem piquenique, correm, estudam... Campana, a pequena cidade do meu amigo, em nada tem a ver com Brumadinho ou qualquer outra cidade do interior de Minas (e de quase todo o Brasil): as ruas são arborizadas e as casas antigas denotam a preocupação não apenas com a utilidade, mas com a estética. Eu, que sou de Santa Maria do Suaçuí (se você estiver perto de lá, corra!), e que moro em BH, sei que a estética não parece um imperativo aos nossos construtores...
Retribuindo a gentileza do meu amigo, convidei-o a passar uma semana em minha casa. Não fizemos os tradicionais passeios pelos duvidosos pontos turísticos daqui; preferi mostrar nossa rotina. Enfim, fomos aos butecos, bebemos em casa, bebemos na Rua (lá na Argentina não se pode fazer isso! Ok, a norma não é lá muito cumprida...) e, quando fomos ao samba do Reciclo, ele disse: Saulo, esse é o lugar mais legal que já fui! Até hoje não sei se ele disse isso só pelo samba ou por todas as mulheres que ficavam olhando pra ele (Cristian é a cara do Gael García Bernal)...
Mas o tapa e o presente que Cristian me deu acho que ele não notou. Estávamos passando pela Praça da Estação e, na época, estavam construindo a linha verde (!?). Cristian me perguntou: "Saulo, por que estão cobrindo o rio?". "Porque vão ampliar a avenida", respondi. "E ninguém disse nada!?", ele retrucou. Dois quarteirões depois e eu ainda atordoado, Cristian me vira com a cara mais inocente do mundo, me olha com jeito de criança curiosa e me pergunta ao ver o Parque Municipal: "Porque tem grade?". Calei-me.
Em tempo: Cristian não é nenhum urbanista, revolucionário, anti-capitalista, intelectual ou qualquer outro tipo de estereótipo ao qual costumamos imputar tais perguntas. Cristian nem é da classe média alta. Na época, deveria ter por volta de 20 anos, não fazia faculdade e tocava numa banda de rock. Não me perguntou em tom de crítica, mas em tom de curiosidade de quem veio de um mundo nesse ponto diverso.

Abaixo, três fotos de Buenos Aires tiradas por mim em 2005:


Puerto Madero, um antigo porto cuja área foi revitalizada e, agora, vive franca expansão imobiliária. Você pode saber mais desse local aqui.


Caminito, bairro La Boca, onde está sediado o clube Boca Juniors e onde está o tradicional estádio La Bobonera. Aqui, uma breve reportagem da Folha sobre o lugar.


O sofisticado bairro de Recoleta. Esta arquitetura é a predominante na cidade.

Um comentário:

Roberto Andrés disse...

Muito bom o post, especialmente a conexão entre os fatos e uma reflexão crítica.