terça-feira, 26 de abril de 2011

Partes expostas

“Em 1930, um grupo de idealistas se reuniu e decidiu fundar uma Escola de Arquitetura em Belo Horizonte. Nascia assim o primeiro curso autônomo de Arquitetura em nosso país, desvinculado das Escolas de Belas Artes ou de Engenharia.” (site oficial da Escola de Arquitetura da UFMG). 80 anos se foram, saiu Vargas, entrou Vargas, 2ª Guerra Mundial, veio Brasília, a ditadura militar, o milagre econômico, a queda do Muro de Berlim, a potência hegemônica, o 11 de setembro, a internet... É muito e, sem dúvida, a arquitetura participou disso.

A exposição "Escola de Arquitetura da UFMG: lembrança do passado, visão do futuro" não deu a importância que todo esse “tempo” merecia. Sobre o passado, privilegiou as construções belorizontinas realizadas durante esse período, quase todas (ou talvez todas) de estilo art déco ou modernista, mostradas por meio de panfletos explicativos expostos em mesas desde a entrada até o centro. Sobre o futuro, preferiu abstrações a soluções, arte a arquitetura, mostradas por instalações localizadas na periferia da galeria.

Faltou ser evidenciada a intervenção do Estado, das relações de poder e das relações sociais de maneira geral na distribuição do espaço, na estética predominante, na escolha dos materiais e dos “lugares”. Não foi mostrada a evolução do pensamento arquitetônico e urbanístico, as intervenções “na” e “da” Escola de Arquitetura. Os fatos vieram soltos, assim como quem analisa um prédio sem vislumbrar seu entorno.

Sobre a apresentação das construções, louvável, contudo, a possibilidade de serem levados os panfletos como lembrança (muito melhor que aqueles enfadonhos papeizinhos entregues logo na entrada e que costumam ir depois para a lata de lixo). Mesmo algumas instalações propuseram intervenções urbanísticas: pena que o recurso estético, sobrevalorizado, não foi suficiente à argumentação.

Interessante na exposição, também, foi uma abertura, ainda que discreta, à participação dos visitantes. A parede na qual todos podem deixar mensagens com os “desejos” para Belo Horizonte é de leitura obrigatória (no mínimo você vai rir, e muito!). Lamentável o fato de que o papel para anotações havia acabado dias atrás e não tinha sido reposto (melhor seria se fosse reservado um espaço para pichadores...).

Ao final da exposição, que colocou fotografias de construções de concreto e vidro de um lado, e ideias abstratas e outras sem muita fundamentação prática de outro, têm-se a sensação de que o desejo de 80 anos atrás de desvincular-se da Engenharia e da Belas Artes ainda não se completou. E creio que nem deveria. O problema é quando se vaga pelos dois extremos, como parece ainda ocorrer, sem se encontrar no centro, que talvez seja o lugar da Arquitetura e Urbanismo - ciência social aplicada.

"Parede dos desejos":

Numa cidade onde a faixa de pedestre é dos carros, é sempre bom especificar...


Está em voga.


Pirou! (foto tirada por celular: ampliar para melhor leitura)


Sobre a “Sala Especial Arquiteta Hygina Bruzzi”, relato minha dificuldade em acompanhar sua vida por meio da exposição. Uma constante fala acerca da arquiteta em alto-falantes soa mais como um ruído que vem da rua. A forma de apresentação ao público é excludente e, creio eu, passível de compreensão apenas para um grupo seleto. Abaixo, parte do texto de apresentação que, confesso, entendi bulhufas:


Para mim, fica a Hygina poeta e a lembrança de um de seus versos: “A saudade é a presença amorosa da ausência.”


Exposição 80 Anos da Escola de Arquitetura da UFMG
Data: 08 de abril a 08 de maio
Horário: terça-feira a sábado de 9h às 21h; domingo de 16h às 21h
Local: Palácio das Artes - Espaço Mari'Stella Tristão e Galeria Anexa (ao lado da Galeria Alberto da Veiga Guignard)
Entrada franca
Informações: (31) 3236-7400

2 comentários:

igorguelfo disse...

Muito boa a resenha, Saulo! Sobre os panfletos eu achei que faltou colocar o endereço dos edifícios.
Nos "Recados para BH" metrô e ciclovia são reclamações quase unânimes.

saulo disse...

Tem razão, Igor. Também senti falta do endereço dos edifícios e a "parede dos desejos" de fato foi muito útil para comprovar o que já imaginávamos.