sexta-feira, 30 de setembro de 2011

De usuário a morador

Baseando-se nos conceitos, de certa forma opostos, de usuário e morador de Hertzberger, podemos inferir que o usuário é aquele que, por direito de uso, serve-se do espaço à sua volta, desfrutando de suas utilidades. Em contraposição, morador é aquele que além de se beneficiar do uso do espaço, o modifica de acordo com o tempo ou a necessidade.

O morador estabelece um maior senso de responsabilidade e afinidade com o espaço à sua volta, somente sendo possível através da criação de vínculo emocional e relação de identidade com a habitação (lar ou "ninho seguro", de acordo com Hertzberger) . No entanto, o morador necessita empreende um maior envolvimento no arranjo e no mobiliamento de uma área, empregando um certo grau de esforço e disciplina para adaptar o espaço para cada situação.

Hertzberger acredita que um dos papéis do arquiteto é criar a concepção de morador ao defender o princípio de John Habraken de "que uma obra de arquitetura não é um resultado estático dos esforços do arquiteto, mas uma estrutura que convida a ser habitada, adaptada e modificada no tempo." Assim, o arquiteto não propõe soluções prontas, mas busca proporcionar um espaço onde o usuário tem a possibilidade de intervenção à sua maneira, fazendo-o evoluir da categoria de passivo usuário para ativo morador.

Para ilustrar essa concepção de usuário a morador, Hertzberger cita a Escola Montessori, Delf, projetada por ele em 1960-66. Fundado por Maria Montessori, o método de ensino Montessori incentiva a aprendizagem dinâmica através da não imposição de limites, estimulando a criança à adaptar o ambiente de aprendizagem ao seu nível de desenvolvimento. Tal filosofia de ensino dialoga diretamente com o princípio arquitetônico de Hertzberger.


Escola Montessori, Delf

"As salas de aula desta escola são concebidas como unidades autônomas, pequenos lares, por assim dizer, já que todas estão situadas ao longo do hall da escola, como uma rua comunitária. A professora, a ‘tia’, de cada casa decide, junto com as crianças, que aparência terá o lugar e, portanto, qual será o seu tipo de atmosfera." (HERTZBERGER, Lições de Arquitetura, p. 28).


Blocos perfurados possibilitam vários usos e situações, como guardar objetos e plantar flores.



Blocos podem ser alterados, servindo como bancos.


Link

Alvenaria aparente de blocos possibilita às crianças a percepção de que o edifício basicamente é formado por blocos empilhados, fazendo analogia com seus brinquedos de encaixe durante as aulas.



Via: RevistaaU e Portalprisma

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