sexta-feira, 1 de julho de 2011

Ridículo!

Início do curso. Depois de anos entre normas, excelências, data vênias, “pelas ordens”, estava eu na desordem do teatro.

“Vamos todos rolar no chão.” “Abrace seu colega.” “Ponha a língua pra fora!” “Engatinhe!” Falava o professor. “Mas isso é ridículo”, eu pensava. E era ridículo mesmo.

Desde as aulas, oficinas, ensaios, aquecimentos, tudo no teatro é ridículo. Mas as apresentações são um momento mágico. Ser outra pessoa para outras pessoas, responsabilizar-se pelo personagem e pelo público, escutar o som da platéia... “Ator gosta é de público”, disse uma colega minha quando, na coxia, comentei com ela que estava sentindo naquela apresentação uma energia maior dos atores. E de fato a platéia estava lotada.

Quando antes ouvia da “generosidade do ator com o público”, torcia o nariz para tamanha petulância. “É apenas mais uma profissão”, pensava e ainda penso. Mas hoje vejo o sentido dessa tal generosidade. No teatro há pessoas egoístas e generosas, boas e ruins, como em qualquer lugar. Mas só se consegue ser verdadeiro no palco quando se entrega o próprio corpo à platéia, quando se esquece de si e da própria platéia. Depois, pode-se até matar a mãe, mas naquela hora, o momento é do público, ainda que ele nem seja visto do palco, como de fato não o é.

Quebrar barreiras, ainda que internas, desencapar-se, ridicularizar-se. Tudo isso é teatro. Curiosamente, é uma arte que, para representar, exige mais verdade que a vida.

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