Início do curso. Depois de anos entre normas, excelências, data vênias, “pelas ordens”, estava eu na desordem do teatro.
“Vamos todos rolar no chão.” “Abrace seu colega.” “Ponha a língua pra fora!” “Engatinhe!” Falava o professor. “Mas isso é ridículo”, eu pensava. E era ridículo mesmo.
Desde as aulas, oficinas, ensaios, aquecimentos, tudo no teatro é ridículo. Mas as apresentações são um momento mágico. Ser outra pessoa para outras pessoas, responsabilizar-se pelo personagem e pelo público, escutar o som da platéia... “Ator gosta é de público”, disse uma colega minha quando, na coxia, comentei com ela que estava sentindo naquela apresentação uma energia maior dos atores. E de fato a platéia estava lotada.
Quando antes ouvia da “generosidade do ator com o público”, torcia o nariz para tamanha petulância. “É apenas mais uma profissão”, pensava e ainda penso. Mas hoje vejo o sentido dessa tal generosidade. No teatro há pessoas egoístas e generosas, boas e ruins, como em qualquer lugar. Mas só se consegue ser verdadeiro no palco quando se entrega o próprio corpo à platéia, quando se esquece de si e da própria platéia. Depois, pode-se até matar a mãe, mas naquela hora, o momento é do público, ainda que ele nem seja visto do palco, como de fato não o é.
Quebrar barreiras, ainda que internas, desencapar-se, ridicularizar-se. Tudo isso é teatro. Curiosamente, é uma arte que, para representar, exige mais verdade que a vida.
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