O artista polonês Frans Krajcberg , que se denomina militante ecológico, vale-se de restos carbonizados de grandes árvores da Mata Atlântica e da Amazônia, como forma de protesto contra destruição do meio ambiente. Ele é considerado um dos precursores de uma prática muito exercida hoje: a utilização da natureza como inspiração.
Nascido no interior da Polônia em 1921, Frans sentiu na pele os horrores da II Guerra Mundial. Talvez por isso suas obras tenham um viés dramático. Ele viu sua mãe judia ser enforcada pelos alemães nazistas, mais tarde fugiu do comunismo soviético refugiando-se na França, onde conheceu dois grandes artistas, o modernista francês Fernand Léger e o russo Marc Chagall. Veio para o Brasil para fugir (ironicamente) das atrocidades humanas. Participou da primeira Bienal de São Paulo, em 1951, e, em 1972, instalou-se em Nova Viçosa, na Bahia. Foi quando começou sua estranha e, de certa forma, bela obra. Krajcberg faz de troncos de madeira de lei estranhas esculturas de pulmões, esqueletos, corações, entre outras formas. Parte de sua matéria prima ele encontra nas proximidades de seu sítio, onde fez uma grande “plantação” com diversas espécies nativas da flora brasileira. Outra parte vem de áreas devastadas por queimadas ou desmatamento em todo o Brasil.
Ele é um representante típico de um fenômeno bem atual: a utilização da árvore como ícone nas artes plásticas e arquitetura. Um artista influenciado por Krajcberg foi Hugo França, que na década de 1980 começou a criar móveis com uma árvore típica do sul da Bahia, que está em extinção, o pequi-vinagreiro.
Outros artistas influenciados por essa onda ambientalista podem ser vistos pelo mundo. O arquiteto alemão Jürgen Mayer foi responsável pela criação da maior estrutura em madeira chamada Metropol Parasol, em Sevilha, na Espanha.
Com 30 metros de altura, o complexo lembra muito as árvores que podiam ser vistas no local onde foi construído, antes de lá ser um estacionamento.
Outra grande obra é a de Singapura, em que consiste de torres de concreto e aço que possuem galhos artificiais, lembrando grandes árvores centenárias com 50 metros de altura em meio a projetos arquitetônicos monumentais. Quando estiverem prontas em 2012, essas obras serão preenchidas por dentro e por fora com espécies vegetais de todo o planeta. Essas árvores artificiais foram uma alternativa urbanística para transformar essa mega cidade em uma capital mundial de botânica.
Esta “mania” mundial em recriar o meio ambiente, ou até mesmo utilizar-se dele, é um exemplo da vontade em se aproximar a natureza do espaço urbano, como uma necessidade de manter ambos em perfeito equilíbrio.
Fonte: Revista Veja, 14 de setembro de 2011.
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