A exposição "Escola de Arquitetura da UFMG: lembrança do passado, visão do futuro" não deu a importância que todo esse “tempo” merecia. Sobre o passado, privilegiou as construções belorizontinas realizadas durante esse período, quase todas (ou talvez todas) de estilo art déco ou modernista, mostradas por meio de panfletos explicativos expostos em mesas desde a entrada até o centro. Sobre o futuro, preferiu abstrações a soluções, arte a arquitetura, mostradas por instalações localizadas na periferia da galeria.
Faltou ser evidenciada a intervenção do Estado, das relações de poder e das relações sociais de maneira geral na distribuição do espaço, na estética predominante, na escolha dos materiais e dos “lugares”. Não foi mostrada a evolução do pensamento arquitetônico e urbanístico, as intervenções “na” e “da” Escola de Arquitetura. Os fatos vieram soltos, assim como quem analisa um prédio sem vislumbrar seu entorno.
Sobre a apresentação das construções, louvável, contudo, a possibilidade de serem levados os panfletos como lembrança (muito melhor que aqueles enfadonhos papeizinhos entregues logo na entrada e que costumam ir depois para a lata de lixo). Mesmo algumas instalações propuseram intervenções urbanísticas: pena que o recurso estético, sobrevalorizado, não foi suficiente à argumentação.
Interessante na exposição, também, foi uma abertura, ainda que discreta, à participação dos visitantes. A parede na qual todos podem deixar mensagens com os “desejos” para Belo Horizonte é de leitura obrigatória (no mínimo você vai rir, e muito!). Lamentável o fato de que o papel para anotações havia acabado dias atrás e não tinha sido reposto (melhor seria se fosse reservado um espaço para pichadores...).
Ao final da exposição, que colocou fotografias de construções de concreto e vidro de um lado, e ideias abstratas e outras sem muita fundamentação prática de outro, têm-se a sensação de que o desejo de 80 anos atrás de desvincular-se da Engenharia e da Belas Artes ainda não se completou. E creio que nem deveria. O problema é quando se vaga pelos dois extremos, como parece ainda ocorrer, sem se encontrar no centro, que talvez seja o lugar da Arquitetura e Urbanismo - ciência social aplicada.
"Parede dos desejos":



Sobre a “Sala Especial Arquiteta Hygina Bruzzi”, relato minha dificuldade em acompanhar sua vida por meio da exposição. Uma constante fala acerca da arquiteta em alto-falantes soa mais como um ruído que vem da rua. A forma de apresentação ao público é excludente e, creio eu, passível de compreensão apenas para um grupo seleto. Abaixo, parte do texto de apresentação que, confesso, entendi bulhufas:

Para mim, fica a Hygina poeta e a lembrança de um de seus versos: “A saudade é a presença amorosa da ausência.”
Exposição 80 Anos da Escola de Arquitetura da UFMG
Data: 08 de abril a 08 de maio
Horário: terça-feira a sábado de 9h às 21h; domingo de 16h às 21h
Local: Palácio das Artes - Espaço Mari'Stella Tristão e Galeria Anexa (ao lado da Galeria Alberto da Veiga Guignard)
Entrada franca
Informações: (31) 3236-7400
2 comentários:
Muito boa a resenha, Saulo! Sobre os panfletos eu achei que faltou colocar o endereço dos edifícios.
Nos "Recados para BH" metrô e ciclovia são reclamações quase unânimes.
Tem razão, Igor. Também senti falta do endereço dos edifícios e a "parede dos desejos" de fato foi muito útil para comprovar o que já imaginávamos.
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