sábado, 7 de maio de 2011

Moral da história



Finalmente eu estava lá, na terra prometida! Sexo, drogas, rock’n roll, Red Light... e tudo num único pacote! Mas Amsterdã não se presta a pacotes e nem a embalagens.

O transporte coletivo é eminentemente por meio de bonde, com seus trilhos e fios à mostra. Trens subterrâneos existem, mas para distâncias mais longas.

As vitrines dos sex shops em nada lembram a discrição envergonhada dos estabelecimentos similares daqui. Nada de tarjas pretas em revistas e bugigangas de plástico em todos os formatos sexuais pulam (literalmente) à vista do “consumidor”. Impressionou-me duas crianças, um menino e uma menina aparentemente irmãos gêmeos, por volta de cinco anos, rindo, rindo dos pênis de plástico que movimentavam na vitrine e o pai só rindo junto com eles. Imaginei o rebuliço que tal fato causaria no Brasil...

Os rios em Amsterdã também são vistos. A cidade é cortada por inúmeros canais e os barcos acrescem um meio de transporte num local tomado por bondes e bicicletas. Carro pode, mas em algumas ruas. Para compensar os estreitos passeios, as pessoas perambulam pelo meio das inúmeras ruelas onde veículo motorizado, quando permitido, é só um intruso.

Um dia meu professor de francês, referindo-se aos córregos, disse-me: “Saulo, Belo Horizonte era para ser igual à Amsterdã!” Com a licença da hipérbole, ele tinha um pouco de razão. Belo Horizonte é também cortada por inúmeros córregos, mas preferimos tapar um sem número deles. Aqui, uma breve reportagem a respeito (vide a partir da fl. 11 da revista).

Mas não tapamos só as águas. Já pensou onde ficam os puteiros (sem o perdão da palavra) de BH? Antigamente e ainda hoje tem a zona boêmia, ou zona, para os íntimos, ou, recentemente, uma versão mais moderna conhecida pelo pudico nome de “casa de show”. Todos muito discretos ou muito delimitados. Numa sociedade onde prostituição é algo tão repulsivo quanto o esgoto e onde este é jogado nos córregos, o destino de ambos (córregos e prostituição) é semelhante: são tolerados, mas que não se mostrem!



Em Amsterdã não. O agradável "Red Light District" (foto ao lado), onde ficam as famosas prostitutas expostas na vitrine, em nada se diferencia dos demais locais. Ao contrário: está perfeitamente integrado à cidade, repleto de ótimos bares e restaurantes freqüentados por todos, inclusive por avós, pais, crianças. Ah, e as prostitutas não ficam expostas só à noite: você corre o risco de ir comprar pão e ser seduzido pela vitrine ao lado...

Fomos condicionados a imaginar que questões sociais ou econômicas são os únicos delimitadores do espaço urbano. Amsterdã me fez ver que a moral também exerce seu papel.

Se você já está surpreso com a liberdade que a cidade inspira, o melhor eu guardei pro final. O dispositivo abaixo é um mictório, sem portas, utilizável por qualquer transeunte (digo, só pra homens, meninas) em plena praça pública! Quando vi, fiquei tão curioso que um simpático holandês me chamou e disse: “Sim, é pra fazer xixi!”



Do lado de cá, vamos tapando o sexo, tapando as vitrines, tapando os rios, tapando os buracos e o sol com a peneira.

Um comentário:

Luiza disse...

o mictorio é ótimo, alguns desses nos carnavais de Minas como Diamantina iriam ser muito úteis para manter a cidade limpa!